Aguarela
14x20 cm
Exposição de pintura de Pedro Charneca, com inauguração pelas 16 horas do dia 17 de Novembro, na Galeria Vieira Portuense, nº50, no Largo dos Lóios, 4050-338 Porto. Telef.:222005156. www.galeriavieiraportuense.net
sábado, 27 de outubro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Texto por: Eduardo Pinheiro
"ninguém pode sonhar por ti"
Travessa das Anjinhas (Évora)
Abriu a porta do quarto mais recuado da casa grande da travessa. Era lá que se guardava. A parte de fora de si, claro. A outra, essa não a largava nunca, permanente, no bater cadenciado de cada pulsar do coração. A de dentro era a essência que lhe permitia respirar a finitude de ter pele e poder sentir-se, carne, osso, vida. Às vezes precisava de se mudar por fora. Ou porque se tinha simplesmente fartado de assim ser, ou porque lhe aparecera um rasgão súbito que lhe trazia a urgência de ser outra. Ou só pelo gozo de se experimentar diferente. Mudava porque era chegada a hora, não havia necessidade de mais explicações. Avançou pelo quarto, closet de carapaça e epiderme, e olhou para as roupas de si ordeiramente penduradas. Havia-as de todos os feitios. Sérias. Sonhadoras. Determinadas. Amigas. Criminosas. Sensuais. Desleixadas. De várias cores. Rubras de paixão. Verdes de cansaço. Pretas de vergonha. Agora só tinha de escolher. Sentou-se num gesto de contemplação e surpresa perante a infinitude de possibilidadades. Respirou-se. Sentiu o ar da vida a sair-lhe. A entrar-lhe numa súplica de experiência. Levantou-se determinada e vestiu-se de longas asas brancas.
Abriu a porta do quarto mais recuado da casa grande da travessa. Era lá que se guardava. A parte de fora de si, claro. A outra, essa não a largava nunca, permanente, no bater cadenciado de cada pulsar do coração. A de dentro era a essência que lhe permitia respirar a finitude de ter pele e poder sentir-se, carne, osso, vida. Às vezes precisava de se mudar por fora. Ou porque se tinha simplesmente fartado de assim ser, ou porque lhe aparecera um rasgão súbito que lhe trazia a urgência de ser outra. Ou só pelo gozo de se experimentar diferente. Mudava porque era chegada a hora, não havia necessidade de mais explicações. Avançou pelo quarto, closet de carapaça e epiderme, e olhou para as roupas de si ordeiramente penduradas. Havia-as de todos os feitios. Sérias. Sonhadoras. Determinadas. Amigas. Criminosas. Sensuais. Desleixadas. De várias cores. Rubras de paixão. Verdes de cansaço. Pretas de vergonha. Agora só tinha de escolher. Sentou-se num gesto de contemplação e surpresa perante a infinitude de possibilidadades. Respirou-se. Sentiu o ar da vida a sair-lhe. A entrar-lhe numa súplica de experiência. Levantou-se determinada e vestiu-se de longas asas brancas.
Eduardo
Pinheiro
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